A virtude da HUMILDADE segundo São Vicente de Paulo
(retirado do livro “Liderança Mística”, a ser publicado em novembro de 2013)
Para São Vicente de Paulo, a humildade é o reconhecimento de que tudo de bom que temos vem de Deus.
Ele escreve para Firmin Get, em 08 de março de 1658: «Não digamos mais: fui eu que fiz este bom trabalho, porque toda a boa ação deve ser feita em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo (...). Guarde bem, para que não atribua nada a você mesmo. Se o fizer, você estará cometendo furto e estará injuriando a Deus, quem, por Si mesmo, é o autor de todas as boas obras”.
Para a pessoa virtuosa, humildade significa a boa vontade para aceitar que os resultados e o impacto alcançados com nossos planos e nosso suor vêm de Deus e do trabalho compartilhado com outras pessoas.
A humildade é mais bem expressada pelo nosso ciclo de vida. Já no momento de nosso nascimento, cada um individualmente, é uma obra maravilhosa de Deus (Ecl 17,1-5). Criando-nos à Sua imagem, Deus nos dá a capacidade de decidir, agir, corrigir e converter-se, possuindo um corpo e uma mente repletos de capacidades e potencialidades. Ao mesmo tempo em que Deus nos dá o dom excepcional da vida, dá-nos o livre arbítrio (Ecl 17,5-6), tornando-nos capazes de tudo, inclusive do poder sobre a natureza e os outros.
Por outro lado, também nos indica que “somos pó e ao pó retornaremos” (Gn 3,19).
Para nós cristãos, a morte é uma obra ainda mais maravilhosa: porque é o encontro definitivo com Deus, depois do cumprimento de nossa missão.
A maravilha da criação e da morte se apoia no pressuposto da humildade. Se nascemos, é porque Deus nos deu o dom da vida; se morremos, é por meio Dele que morremos. O pressuposto divino é que, durante nossa vida, queiramos ser humildes, decidindo sempre por Deus, em nossas escolhas (Ecl 17,7-13).
Para completar a obra e apoiar nossa decisão e o arbítrio por Deus, Ele nos deixa o dom maior da encarnação de Seu filho, estabelecendo o caminho, a verdade e a vida (Jo 14,6): quem é livre caminhando com Deus, decidindo de acordo com Seu verbo e vivendo a Sua vida é humilde e, portanto, tem a vida Nele.
Quando Vicente de Paulo enfatizava a humildade, penetrava na verdade básica e profunda do Novo Testamento. O Evangelho de São Lucas, em particular, nos diz que Deus se dirige aos menores, aos Pobres de Israel, àqueles que reconhecem que necessitam Dele e esperam Nele.
Neste sentido, a humildade é o fundamento de toda a perfeição evangélica, o ponto principal de toda a vida espiritual. Vicente de Paulo foi à profundeza dos evangelhos, quando disse que “a humildade é a origem de todo o bem que fazemos”.
Humildade não significa passividade, mas, ao contrário, é ser proativo e ter autoestima suficiente para aceitar que somos iluminados por Deus, uma vez que somos seus filhos, logo, podemos tudo.
O Pe. Robert Maloney, CM (ex-superior geral da Congregação da Missão) propõe algumas formas práticas de se reconhecer a humildade em um líder místico:
1. Humildade é a gratidão pelos dons.
A pessoa que recebe tudo deve se colocar diante de Deus em espírito de agradecimento.
2. Humildade significa uma atitude de servo.
Esta atitude é central no Novo Testamento, especialmente para aqueles que exercitam a autoridade. No Evangelho de João, Jesus a demonstra a seus discípulos através da passagem do lava-pés.
São Vicente de Paulo iniciava as cartas aos membros da Congregação da Missão que fundou, com a citação: “Vicente de Paulo, indigníssimo superior da Congregação da Missão”.
3. Humildade é a prática voluntária do “auto esvaziamento”.
Significa maximizar a dedicação à busca do alcance da Visão e entregá-la a Deus: Ele nos dá a capacidade para alcançar os objetivos.
São Vicente de Paulo disse uma vez: “Creiam-me, senhores padres e irmãos meus, há uma máxima infalível de Jesus Cristo que frequentemente lhes é anunciada de sua parte: tão logo um coração se esvazia de si mesmo, Deus o enche; é Deus quem nele permanece, quem Nele age. É o desejo de ser desprezados que nos esvazia de nós mesmos”.
4. Humildade se traduz no sentimento de paz por nos colocarmos nas mãos de Deus.
Há coisas que não podemos controlar. Talvez a maioria delas. Por exemplo, não podemos controlar a ação do demônio, o mal que nos fazem de muitas maneiras. Não podemos mesmo, na maioria das vezes, controlar a tentação do demônio. Frequentemente, fazemos o mal sem querer fazê-lo, pecamos sem querer pecar, porque não conseguimos nos controlar, mesmo sabendo que é pecado.
Não podemos controlar nossa falta de capacidade para entender ou resolver problemas; verificamos que muitos são mais competentes que nós. Podemos ser mais esforçados que os outros, “mais inteligentes” e, com isso, superar nossas incapacidades, mas não eliminá-las – aliás, aceitá-las é uma expressão concreta de humildade. Não conseguimos eliminar nossos vícios: tantos de nós sofrem de alcoolismo, por exemplo, um mal congênito que nos corroi e nos impede de avançar. Ao nos colocarmos nas mãos de Deus, temos a confiança de que Ele pode fazer o que não somos capazes de completar.
5. Humildade significa ser flexível.
A pessoa virtuosa deve, muitas vezes, voltar atrás, e “lançar a rede do outro lado da barca” (Jo 21,6), para atingir a Visão, quando sente que é vontade de Deus que o faça.
Isto não significa que devamos mudar todo o tempo de opinião, nem tampouco mudar nossos planos, mas sim, que sejamos criativos para chegar ao caminho mais efetivo, à forma mais inteligente de atingi-los. A humildade é, portanto, uma expressão de um dos traços mais importantes de São Vicente de Paulo: a inovação.
6. Humildade significa mostrar estima pelos outros.
Dependemos dos outros e os outros dependem de nós, logo devemos permitir-nos ser ensinados, ajudados e iluminados pelos outros.
7. Humildade significa deixar que sejamos evangelizados pelos Pobres: afinal, eles são nossos grandes mestres.
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