segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Significado do quadro The Beggar (O Mendicante) de Meltem Aktas


Descrição do quadro “O Mendicante” do inglês “The Beggar”

(Retirado do livro “Liderança Mística”, a ser publicado em Novembro de 2013) 

Pintado pela grande artista turca Meltem Aktas, o ícone celebra a Encarnação do Filho do Homem, elemento central à espiritualidade de São Vicente de Paulo. Apresenta também outro elemento desta espiritualidade: a interação entre um Vicente idoso e um homem pobre que se parece com o Jesus palestino e está em um movimento oval. Vemos Jesus no mendicante e a nossa transformação ao interagir com Ele; observa-se que Vicente de Paulo também se põe no mesmo movimento oval.

Conhecendo nossa própria pobreza, assumimos a posição do homem pobre e, com ele, olhamos atentamente para Vicente de Paulo. Os olhos de Vicente se focam no pão. Provavelmente, Vicente de Paulo é quem dá o pão ao mendicante, mas, olhando para as mãos, é difícil saber se é assim ou se é o contrário: se é Vicente de Paulo que recebe o pão. Aqui reside outra verdade da espiritualidade Vicentina: uma vez que encontramos Jesus no Pobre, ele tem tanto a nos dar quanto o que nós temos para lhe dar, ou mais. 

Uma transformação ocorreu: a pessoa do homem pobre se transforma em Jesus e nós nos tornamos Vicente de Paulo, recebendo do assistido tanto quanto nós mesmos doamos.

O mendicante tem uma mão deformada; o pé de Vicente de Paulo está em uma posição estranhamente paralela à mão do mendigo, sugerindo uma relação de intimidade entre Vicente de Paulo e o mendicante.

O mesmo se demonstra na simetria das roupas dos dois. Vicente de Paulo se coloca em uma posição de escuta; ele experimenta algo de sua própria fraqueza e pobreza, reconhecendo-as ao entrar no mundo do assistido, com sua doação e sua escuta.  Uma nova transformação: ao entrar na intimidade do Pobre, com nossa riqueza, encontramos a nossa própria pobreza. Como Vicente de Paulo costumava dizer: “É somente por causa de seu amor, somente seu amor, que o Pobre o perdoará pelo pão que você dá a ele”.

O partilhar do pão evoca o tema eucarístico do ícone: Jesus, o homem pobre, nos oferece o pão da verdade. 

As pedras do fundo relembram a passagem da tentação de Jesus do evangelho de Lucas.  O demônio disse a Jesus: “Se és efetivamente Deus, ordena a estas pedras que se transformem em pães”. A resposta de Jesus foi: “Não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus”. O pão e a palavra que Jesus, o homem pobre, dá a Vicente de Paulo são mais do que o pão material.  A espiritualidade vicentina nos leva a sair de nossas necessidades físicas para compartilhar a boa-nova da salvação em Jesus, o verdadeiro pão descido do céu.

A árvore verde à esquerda, junto ao homem pobre, lembra-nos a revelação de Jesus, como a vinha e nós como os ramos: uma outra referência sacramental.

Finalmente, o ícone nos apresenta três planos horizontais: o inferior, com as pedras onde estão Vicente de Paulo e o homem pobre; acima deste, o plano intermediário, com a representação da Casa-Mãe da Congregação da Missão em Paris - Hospital Saint Lazare, construído por Vicente de Paulo; e o superior, representando o céu em forma de nuvens.  É, portanto, o mistério da encarnação do Filho do Homem se traduzindo na criação institucional de Vicente de Paulo - fundador ou inspirador de centenas de organizações sociais - e no seu carisma - o partir o pão com o Cristo presente no Pobre.  Este encontro, de elevada intimidade e de transformação pessoal, é a base de toda a missão e visão transformadoras do Vicente de Paulo empreendedor social e de seus seguidores. O mistério Daquele explica o sucesso e o impacto destas.

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