Descrição
do quadro “O Mendicante” do inglês “The Beggar”
(Retirado
do livro “Liderança Mística”, a ser publicado em Novembro de 2013)
Pintado
pela grande artista turca Meltem Aktas, o ícone celebra a Encarnação do Filho
do Homem, elemento central à espiritualidade de São Vicente de Paulo. Apresenta
também outro elemento desta espiritualidade: a interação entre um Vicente idoso
e um homem pobre que se parece com o Jesus palestino e está em um movimento
oval. Vemos Jesus no mendicante e a nossa transformação ao interagir com Ele;
observa-se que Vicente de Paulo também se põe no mesmo movimento oval.
Conhecendo
nossa própria pobreza, assumimos a posição do homem pobre e, com ele, olhamos
atentamente para Vicente de Paulo. Os olhos de Vicente se focam no pão.
Provavelmente, Vicente de Paulo é quem dá o pão ao mendicante, mas, olhando
para as mãos, é difícil saber se é assim ou se é o contrário: se é Vicente de
Paulo que recebe o pão. Aqui reside outra verdade da espiritualidade Vicentina:
uma vez que encontramos Jesus no Pobre, ele tem tanto a nos dar quanto o que
nós temos para lhe dar, ou mais.
Uma
transformação ocorreu: a pessoa do homem pobre se transforma em Jesus e nós nos
tornamos Vicente de Paulo, recebendo do assistido tanto quanto nós mesmos
doamos.
O
mendicante tem uma mão deformada; o pé de Vicente de Paulo está em uma posição
estranhamente paralela à mão do mendigo, sugerindo uma relação de intimidade
entre Vicente de Paulo e o mendicante.
O
mesmo se demonstra na simetria das roupas dos dois. Vicente de Paulo se coloca
em uma posição de escuta; ele experimenta algo de sua própria fraqueza e
pobreza, reconhecendo-as ao entrar no mundo do assistido, com sua doação e sua
escuta. Uma nova transformação: ao
entrar na intimidade do Pobre, com nossa riqueza, encontramos a nossa própria
pobreza. Como Vicente de Paulo costumava dizer: “É somente por causa de seu
amor, somente seu amor, que o Pobre o perdoará pelo pão que você dá a ele”.
O
partilhar do pão evoca o tema eucarístico do ícone: Jesus, o homem pobre, nos
oferece o pão da verdade.
As
pedras do fundo relembram a passagem da tentação de Jesus do evangelho de
Lucas. O demônio disse a Jesus: “Se és
efetivamente Deus, ordena a estas pedras que se transformem em pães”. A
resposta de Jesus foi: “Não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que
sai da boca de Deus”. O pão e a palavra que Jesus, o homem pobre, dá a Vicente
de Paulo são mais do que o pão material.
A espiritualidade vicentina nos leva a sair de nossas necessidades
físicas para compartilhar a boa-nova da salvação em Jesus, o verdadeiro pão
descido do céu.
A
árvore verde à esquerda, junto ao homem pobre, lembra-nos a revelação de Jesus,
como a vinha e nós como os ramos: uma outra referência sacramental.
Finalmente,
o ícone nos apresenta três planos horizontais: o inferior, com as pedras onde
estão Vicente de Paulo e o homem pobre; acima deste, o plano intermediário, com
a representação da Casa-Mãe da Congregação da Missão em Paris - Hospital Saint
Lazare, construído por Vicente de Paulo; e o superior, representando o céu em
forma de nuvens. É, portanto, o mistério
da encarnação do Filho do Homem se traduzindo na criação institucional de
Vicente de Paulo - fundador ou inspirador de centenas de organizações sociais -
e no seu carisma - o partir o pão com o Cristo presente no Pobre. Este encontro, de elevada intimidade e de
transformação pessoal, é a base de toda a missão e visão transformadoras do
Vicente de Paulo empreendedor social e de seus seguidores. O mistério Daquele
explica o sucesso e o impacto destas.
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