Descrição
da Virtude Vicentina da SIMPLICIDADE
Para
São Vicente, a simplicidade significa falar, buscar e praticar a verdade.
“Se permanecerdes na minha palavra, sereis
meus verdadeiros discípulos; conhecereis a verdade e a verdade vos livrará”
(Jo 8, 31-32).
Simplicidade
significa resistir à tentação da corrupção, difamação dos outros ou qualquer
coisa que envolva a mentira.
O
Pe. Robert Maloney CM, ex-superior geral da Congregação da Missão, propõe
algumas formas práticas de simplicidade, em sua palestra “As Cinco Virtudes
Vicentinas”, feita aos ramos da Família Vicentina, em Roma, março de 2008:
1.
Falar a verdade
Falar
a verdade com consistência é uma disciplina extremamente difícil. Muitas vezes
é mais fácil não dizer a verdade - ou postergar a verdade - do que enfrentar
uma situação incômoda que ela pode causar.
A
pessoa simples sabe como dizer a verdade, com respeito e ternura. Somos tentados a confundir a verdade, quando
nossa própria conveniência está em jogo ou quando ela nos embaraça
pessoalmente.
É
igualmente difícil ser verdadeiro, quando damos nossa palavra, fazemos uma
promessa ou firmamos um compromisso. Quando falamos algo hoje, ele é verdadeiro
ou falso hoje. Quando nos comprometemos com algo no futuro, entretanto, ele é
verdadeiro somente na medida em que nós o mantemos verdadeiro.
A
verdade, neste caso é o mesmo que fidelidade. É neste sentido que Jesus é
verdadeiro conosco: Ele promete ser fiel a nós e o é, efetivamente, até o
fim.
2.
Testemunhar a verdade
Dar
o testemunho da verdade é uma virtude central para a vida cristã, especialmente
segundo o Evangelho de São João: Jesus é a verdade (Jo 14,6). Quem age na
verdade, permanece na luz (Jo 3,21). Quando vier o Espírito, Ele nos guiará no
sentido da verdade plena (Jo 16,13). Testemunhar a verdade não é apenas ser
honesto, mas evangelizar, indicando que Deus é a essência da verdade.
3.
Buscar a verdade
Bernard
Häring chama esta busca de “a dedicação à verdade”, o que significa aprendê-la
sempre, através da escuta, da interação com os outros, da leitura, da busca
pela educação e pela cultura.
São
Vicente de Paulo buscava a verdade nas experiências comuns da vida, na visita
ao Pobre, na conversa com evangelizadores, em uma conferencia ou discurso, ou
mesmo em eventos tristes - como a perda de alguém, um desastre ou uma situação
de perigo. A verdade se faz clara também em nossas orações, se deixamos que o
Espírito Santo a mostre para nós, e se a tornarmos uma ação concreta em nossa
vida.
4.
Estar na verdade
Isto
é o que comumente chamamos de simplicidade de intenção, pureza de coração ou
referência de tudo a Deus. Jesus buscava sempre saber a vontade do Pai e lutava
contra desejos contrários, quando resolvia realizá-la.
Devemos
fazer o mesmo no dia-a-dia. O conforto, o poder, a glória e a riqueza competem
com o amor a Deus e ao próximo. Algumas vezes eles se confundem com a verdade,
porque são motivos de expressões de aceitação e mesmo de admiração dos outros,
se os temos.
5.
Praticar a verdade
Isto
significa realizar obras de justiça e caridade, fazendo com que a verdade seja
criativamente viva em nosso mundo. Significa fazer com que nossas palavras e
ações deem vida ao Evangelho. A verdade não pode ser puramente verbal: tem que
ser praticada.
6.
Viver a verdade de forma integral
Um cristão
autêntico deve ser consistente com a verdade, em todas as circunstâncias, como
“uma só alma”. É difícil conceber que um cristão que professe a verdade
evangélica na Igreja, possa se deixar envolver de forma contínua por pecados
como a corrupção no trabalho, ou como a infidelidade na vida em família, ou
como o julgamento maledicente na vida social. Podemos pecar eventualmente, mas
buscar consistentemente a conversão, através do arrependimento e do intúito de
não pecar mais.
A
simplicidade é uma virtude extremamente difícil de se exercitar em um mundo que
valoriza nossa aceitação a qualquer preço pelo meio em que vivemos, em
detrimento de nossas virtudes. A avaliação das pessoas sobre nós mesmos sempre
está ligada à nossa capacidade de falar e agir conforme a “massa”, e esta, por
natureza, busca o consumo, a glória e o poder.
Se o
cristão virtuoso não se distanciar das demandas da massa, dificilmente poderá viver
segundo a virtude.
A forma
mais eficaz para o cristão de se manter na simplicidade é confiar tudo a Deus e
não aos homens, sejam os momentos de tristeza ou os de glória, seja o fracasso
ou o sucesso, seja a riqueza ou as dificuldades financeiras: o equilíbrio
estável da vida, na verdade, depende de nos voltarmos para dentro de nós mesmos
e não para fora, só assim somos verdadeiramente livres.
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