terça-feira, 17 de dezembro de 2013

O que é liberdade?


O que é a liberdade?

                                                                     Eduardo Marques Almeida

Se permanecerdes na minha palavra, sereis meus verdadeiros discípulos; conhecereis a verdade e a verdade vos livrará” (Jo 8, 31-32).

 

Neste tempo de Advento, Deus nos apresenta a oportunidade de meditar sobre o que é ser livre.  Jesus nasce em meio a uma perseguição aos mais indefesos e o faz em total liberdade, em um local aberto, pobre e sem recursos: sem a prisão social que nos impomos, da preocupação com a imagem, com o que temos, com a nossa reputação diante dos outros, com nossa persona.   

Por outro lado, oferece-nos uma visão: a estrela-guia, o caminho a seguir, sem o temor da perseguição, sem o medo da perda ao longo do caminho, e com a perspectiva do encontro do tesouro.

O tema da liberdade tem muito a ver com aquelas e aqueles que se deixam encantar pela vocação vicentina do serviço direto aos pobres.  Ao nos alimentarmos da Palavra, como única fonte de verdade, e, portanto, de liberdade, colocamo-nos ao serviço dos que a perderam.

Mas o que significa liberdade?  Liberdade significa ter opções.  Uma pessoa que não tem opções não é livre!  Os pobres que não têm acesso aos serviços básicos, aos seus direitos humanos, ao mínimo necessário para construir a sua  dignidade são cativos. 

Nossa missão é a busca da liberdade para os que não a têm, criando para eles as opções para que progridam e para que os seus filhos, e os filhos dos seus filhos, possam também ser livres, possam ver a luz.  Esta é a nossa missão!

O período das festas que iniciamos é, portanto, uma oportunidade de reflexão sobre como podemos tornar concreta esta nossa missão.  Gostaria de motivar esta reflexão através de três casos de pessoas que perderam a sua liberdade.

Comecemos por Vidal.  Vidal é um paraguaio que sempre foi muito ativo na paróquia, na pastoral de casais e que tem dois filhos.  Por uma desgraça em sua vida, cometeu um erro, um cheque sem fundos da conta de sua tia, em um momento de desespero.  Eu o visito sempre que posso na prisão de Assunção, onde ficará por, pelo menos, um ano.  Sinceramente, não tenho a certeza de que ele terá a liberdade quando sair da prisão, porque não terá como recuperar seu trabalho anterior, nem mesmo um novo trabalho digno.  Talvez, sem opções, ficará cativo para sempre. 

Passemos a um outro país.  Françoise é uma haitiana que, como 80% da população do Haiti, vive de vender frutas e legumes na rua.  O único capital de giro que tem é uma cesta com uns vinte dólares de mercadoria que vende todos os dias: eles lhe possibilitam levar uns  dólares hoje para dar de comer aos seus cinco filhos; os outros dezessete, utilizará amanhã às quatro da manhã, para comprar suas frutas e legumes e recomeçar o ciclo diário. 

Eu me pergunto se Françoise conquistou a sua liberdade, mesmo com o final da escravidão no Haiti, no século XIX?

Um dia, passando de carro por um dos mercados populares da rua, eu a conheci em uma situação muito particular.  Um dos caminhões que despeja carvão todos os dias para a venda no mercado, ao fazer uma manobra na calçada, passou por cima da cesta de Françoise e a amassou completamente.  Era ainda o período da manhã e quase todo o capital de giro da Françoise estava na cesta e, evidentemente se perdeu.  Eu saio do carro, converso com ela, desculpando-me meio sem jeito, pelo que tinha feito o motorista do caminhão.  Lhe pergunto como poderia ajudar e a sua resposta foi direta: não tem problema, amanhã começo novamente. 

Agora, eu me pergunto, quem é mais livre: se Françoise ou eu, que passava todos os dias pela mesma rua, em meu carro blindado e rezava à distância pelos pobres do mercado.  Todos os dias, ao acordar, eu me lembro do que me disse Françoise: hoje, eu vou começar novamente!

Nelson era um negro da África do Sul que nasceu e viveu a maior parte de sua vida sob um regime duríssimo de segregação racial.  Foi o único de sua comunidade que conseguiu graduar-se na universidade.  Logo percebeu que a sua missão não era ganhar a vida como advogado.  Percebeu que nascera para utilizar seus dons para advogar por uma nação de quarenta milhões e mudar a história.  Uma história que todos conhecemos bem.

Das muitas facetas da vida de Mandela, a que mais me impressiona é a sua capacidade de estar por vinte e sete anos em uma prisão, sem estar preso: ao sair do que deveria ter sido um lugar de acúmulo de ódio, o que mostrou foi um soriso que transparecia paz.

Sua visão era muito maior do que ele mesmo: esta era a sua diferença, o seu valor.

Convido à reflexão por ocasião destes dias sobre o quanto nos temos convencido de que nossa missão pode ser maior do que nós mesmos.  Sobre quantas vezes nos impomos uma prisão e nos esquecemos de olhar um pouco mais adiante, mirar os Vidais e as Françoises que passam por nossa vida todos os dias e que precisam de nossos empreendimentos. 

Começo por mim: tenho que utilizar os dons que Deus me deu de graça, minha capacidade intelectual, minhas relações, para que eles possam sair de suas prisões, conquistando sua liberdade e sua dignidade.  Com isso, talvez eu me liberte.

Françoise tinha razão: tenho que começar de novo hoje!

domingo, 8 de dezembro de 2013

Historia da Imaculada Conceição de Maria


Historia da Imaculada Conceição de Maria 

Foi assim: Ana e Joaquim já estavam casados há cerca de vinte anos sem que conseguissem ter filhos, o que entre os judeus da época era visto quase como uma maldição. Certa feita, Joaquim teve sua oferenda recusada no templo, já que, por não ter filhos, ele não parecia estar nas boas graças do Senhor. Decepcionado e sentindo que aquela era ainda mais uma punição do Senhor, Joaquim decidiu se retirar para as montanhas com seu rebanho, abandonando Ana. De acordo com o Evangelho de São Tiago, Joaquim teria se recolhido em retiro, jejuando e se abstendo da companhia da mulher.

Ana que já não tinha filhos, se viu também abandonada pelo marido e resolveu orar, pedindo ajuda ao Senhor. Em resposta às suas preces, apareceu um anjo do Senhor que a tranqüilizou, avisando que suas preces tinham sido ouvidas e que em breve seu marido retornaria e eles teriam o tão esperado filho. O mesmo anjo apareceu a Joaquim na montanha, para onde ele havia se retirado com seu rebanho, instruindo-o a voltar para casa por que Ana, sua mulher, havia concebido o filho que tanto desejava.

Joaquim obedeceu prontamente e, ao encontrar com Ana, os dois teriam se abraçado e trocado um beijo no rosto – momento que foi, erroneamente, retratado como o instante em que se teria dado a concepção de Maria. Segundo ambos evangelhos, portanto, a semente que gerou Maria, no ventre de Ana foi plantada pelo Senhor.

Apesar de Alguns teólogos e Doutores da Igreja, como Santo Anselmo, São Bernardo e São Boaventura, chegarem a negar a Imaculada Conceição de Maria, São Tomás de Aquino, o grande doutor da Igreja deixa claro o ponto.

No livro primeiro dos comentários dos livros das Sentenças (Sent.), escrito provavelmente em 1252 e quando São Tomás contava apenas 27 anos de idade, ainda no início de sua atividade acadêmica em Paris, ele escreveu o seguinte:

"Ao terceiro, respondo dizendo que se consegue a pureza pelo afastamento do contrário: por isso, pode haver alguma criatura que, entre as realidades criadas, nenhum seja mais pura do que ela, se não houver nela nenhum contágio do pecado; e tal foi a pureza da Virgem Santa, que foi imune do pecado original e do atual." (I Sent., d. 44, q. 1, a. 3)

Depois, na segunda parte do Compêndio de Teologia (CTh.), que pertence a um período anterior ao da elaboração da III da Suma Teológica, escrito quando Tomás já contava com cerca de 42 anos de idade, sendo provavelmente do ano de 1267, escreveu:

"Como se verificou anteriormente, a Beata Virgem Maria tornou-se Mãe de Deus concebendo do Espírito Santo. Para corresponder à dignidade de um Filho tão excelso, convinha que ela também fosse purificada de modo extremo. Por isso, deve-se crer que ela foi imune de toda nódoa de pecado atual, não somente de pecado mortal, bem como de venial, graça jamais concedida a nenhum outro santo abaixo de Cristo... Ela não foi imune apenas de pecado atual, como também, por privilégio especial, foi purificada do pecado original." (CTh. c. 224)

Finalmente, no final da sua vida, aos 48 anos, escreveu em seu sermão Expositio super Salutatione angelicae: “Ela é, pois, puríssima também quanto à culpa, pois nunca incorreu em nenhum pecado, nem original, nem mortal ou venial”.

No dia 8 de dezembro de 2007 o papa Bento XVI, após a recitação do Angelus, comentou que nesta festa solene se recorda que "o mistério da graça de Deus envolveu desde o primeiro instante de sua existência à criatura destinada a converter-se na Mãe do Redentor, preservando-a do contágio com o pecado original. Ao contemplá-la, reconhecemos a altura e a beleza do projeto de Deus para cada ser humano: chegar a ser santos e imaculados no amor (Efésios 1, 4), a imagem de nosso Criador."

Fonte: Pesquisa de Márcia Bonnet e documentos de São Tomás de Aquino

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Homilia do Papa Francisco de 01-12-2013 sobre o inicio do Advento, realizada no Angelus


Homilia do Papa Francisco de 01-12-2013 sobre o inicio do Advento, realizada no Angelus

“Na vida de cada um de nós há sempre uma necessidade de recomeçar, de levantar-se, de recuperar o sentido da meta de sua existência”: foi o disse o Papa Franciso que dedicou ao Advento a sua alocução que precedeu o Angelus.

“Assim para a grande família humana é necessário renovar sempre o horizonte comum para o qual estamos a caminho. O horizonte da esperança! O tempo do Advento, que hoje novamente iniciamos, nos dá o horizonte da esperança, uma esperança que não desilude, porque é fundada sobre a Palavra de Deus”.

Iniciamos hoje, Primeiro Domingo do Advento, disse o Papa, um novo ano litúrgico, isto é um novo caminho do Povo de Deus com Jesus Cristo, o nosso Pastor, que nos guia na história em direção ao cumprimento do reino de Deus.

Portanto, este dia tem um encanto especial, nos faz provar um sentimento profundo do sentido da história. Redescobrimos a beleza de estarmos todos a caminho; a Igreja, com a sua vocação e missão, toda a humanidade, os povos, as civilizações, as culturas, todos a caminho através das trilhas do tempo.

A humanidade, portanto, está a caminho, e o Papa se pergunta, mas para onde? Há uma meta comum ? Qual é essa meta? O Senhor nos responde através do profeta Isaías continuou Francisco:

“No final dos tempos, o monte da casa do Senhor estará firmemente plantado no mais alto dos montes, e será mais alto que as colinas e todas as nações correrão para ele. Virão muitos povos, dizendo: «Venham! Vamos subir à montanha do Senhor, vamos ao Templo do Deus de Jacó, para que ele nos mostre seus caminhos, e possamos caminhar em suas veredas»”. ( 2:2-3 ) .

Para o Papa Francisco, o que Isaías descreve é uma peregrinação universal em direção de uma meta comum, que no Antigo Testamento é Jerusalém, onde surge o templo do Senhor, pois a partir daí, de Jerusalém, veio a revelação da face de Deus e da Sua lei . A revelação encontrou em Jesus Cristo a sua realização, e o " templo do Senhor " tornou-se Ele mesmo, o Verbo que se fez carne: é Ele o guia e junto a meta da peregrinação do Povo de Deus; e para a sua luz também os outros povos podem caminhar em direção ao Reino da justiça e da paz.

Diz ainda o profeta : De suas espadas eles fabricarão enxadas, e de suas lanças farão foices. Nenhuma nação pegará em armas contra outra, e ninguém mais vai se treinar para a guerra. (2,4).

Permito-me, continuou o Papa de repetir essas palavas. Mas quando ocorrerá isso? “Que bonito dia será aquele, quando as armas serão desmontadas para serem transformadas em instrumentos de trabalho. E isso é possível! Vamos apostar na esperança, na esperança da paz, e isso é possível”!.

E o Papa chama a atenção para o modelo do comportamento espiritual, do modo de ser e de caminhar na vida, citando a Virgem Maria.

Uma simples jovem do interior, que carrega no coração toda a esperança de Deus! No seu ventre a esperança de Deus se fez carne, tornou-se homem, se fez história: Jesus Cristo. O seu Magnificat é o cântico do Povo de Deus a caminho, e de todos os homens e mulheres que esperam em Deus, no poder da sua misericórdia. Deixemo-nos guiar por ela neste tempo de espera e de vigilância ativa.