terça-feira, 17 de dezembro de 2013

O que é liberdade?


O que é a liberdade?

                                                                     Eduardo Marques Almeida

Se permanecerdes na minha palavra, sereis meus verdadeiros discípulos; conhecereis a verdade e a verdade vos livrará” (Jo 8, 31-32).

 

Neste tempo de Advento, Deus nos apresenta a oportunidade de meditar sobre o que é ser livre.  Jesus nasce em meio a uma perseguição aos mais indefesos e o faz em total liberdade, em um local aberto, pobre e sem recursos: sem a prisão social que nos impomos, da preocupação com a imagem, com o que temos, com a nossa reputação diante dos outros, com nossa persona.   

Por outro lado, oferece-nos uma visão: a estrela-guia, o caminho a seguir, sem o temor da perseguição, sem o medo da perda ao longo do caminho, e com a perspectiva do encontro do tesouro.

O tema da liberdade tem muito a ver com aquelas e aqueles que se deixam encantar pela vocação vicentina do serviço direto aos pobres.  Ao nos alimentarmos da Palavra, como única fonte de verdade, e, portanto, de liberdade, colocamo-nos ao serviço dos que a perderam.

Mas o que significa liberdade?  Liberdade significa ter opções.  Uma pessoa que não tem opções não é livre!  Os pobres que não têm acesso aos serviços básicos, aos seus direitos humanos, ao mínimo necessário para construir a sua  dignidade são cativos. 

Nossa missão é a busca da liberdade para os que não a têm, criando para eles as opções para que progridam e para que os seus filhos, e os filhos dos seus filhos, possam também ser livres, possam ver a luz.  Esta é a nossa missão!

O período das festas que iniciamos é, portanto, uma oportunidade de reflexão sobre como podemos tornar concreta esta nossa missão.  Gostaria de motivar esta reflexão através de três casos de pessoas que perderam a sua liberdade.

Comecemos por Vidal.  Vidal é um paraguaio que sempre foi muito ativo na paróquia, na pastoral de casais e que tem dois filhos.  Por uma desgraça em sua vida, cometeu um erro, um cheque sem fundos da conta de sua tia, em um momento de desespero.  Eu o visito sempre que posso na prisão de Assunção, onde ficará por, pelo menos, um ano.  Sinceramente, não tenho a certeza de que ele terá a liberdade quando sair da prisão, porque não terá como recuperar seu trabalho anterior, nem mesmo um novo trabalho digno.  Talvez, sem opções, ficará cativo para sempre. 

Passemos a um outro país.  Françoise é uma haitiana que, como 80% da população do Haiti, vive de vender frutas e legumes na rua.  O único capital de giro que tem é uma cesta com uns vinte dólares de mercadoria que vende todos os dias: eles lhe possibilitam levar uns  dólares hoje para dar de comer aos seus cinco filhos; os outros dezessete, utilizará amanhã às quatro da manhã, para comprar suas frutas e legumes e recomeçar o ciclo diário. 

Eu me pergunto se Françoise conquistou a sua liberdade, mesmo com o final da escravidão no Haiti, no século XIX?

Um dia, passando de carro por um dos mercados populares da rua, eu a conheci em uma situação muito particular.  Um dos caminhões que despeja carvão todos os dias para a venda no mercado, ao fazer uma manobra na calçada, passou por cima da cesta de Françoise e a amassou completamente.  Era ainda o período da manhã e quase todo o capital de giro da Françoise estava na cesta e, evidentemente se perdeu.  Eu saio do carro, converso com ela, desculpando-me meio sem jeito, pelo que tinha feito o motorista do caminhão.  Lhe pergunto como poderia ajudar e a sua resposta foi direta: não tem problema, amanhã começo novamente. 

Agora, eu me pergunto, quem é mais livre: se Françoise ou eu, que passava todos os dias pela mesma rua, em meu carro blindado e rezava à distância pelos pobres do mercado.  Todos os dias, ao acordar, eu me lembro do que me disse Françoise: hoje, eu vou começar novamente!

Nelson era um negro da África do Sul que nasceu e viveu a maior parte de sua vida sob um regime duríssimo de segregação racial.  Foi o único de sua comunidade que conseguiu graduar-se na universidade.  Logo percebeu que a sua missão não era ganhar a vida como advogado.  Percebeu que nascera para utilizar seus dons para advogar por uma nação de quarenta milhões e mudar a história.  Uma história que todos conhecemos bem.

Das muitas facetas da vida de Mandela, a que mais me impressiona é a sua capacidade de estar por vinte e sete anos em uma prisão, sem estar preso: ao sair do que deveria ter sido um lugar de acúmulo de ódio, o que mostrou foi um soriso que transparecia paz.

Sua visão era muito maior do que ele mesmo: esta era a sua diferença, o seu valor.

Convido à reflexão por ocasião destes dias sobre o quanto nos temos convencido de que nossa missão pode ser maior do que nós mesmos.  Sobre quantas vezes nos impomos uma prisão e nos esquecemos de olhar um pouco mais adiante, mirar os Vidais e as Françoises que passam por nossa vida todos os dias e que precisam de nossos empreendimentos. 

Começo por mim: tenho que utilizar os dons que Deus me deu de graça, minha capacidade intelectual, minhas relações, para que eles possam sair de suas prisões, conquistando sua liberdade e sua dignidade.  Com isso, talvez eu me liberte.

Françoise tinha razão: tenho que começar de novo hoje!

domingo, 8 de dezembro de 2013

Historia da Imaculada Conceição de Maria


Historia da Imaculada Conceição de Maria 

Foi assim: Ana e Joaquim já estavam casados há cerca de vinte anos sem que conseguissem ter filhos, o que entre os judeus da época era visto quase como uma maldição. Certa feita, Joaquim teve sua oferenda recusada no templo, já que, por não ter filhos, ele não parecia estar nas boas graças do Senhor. Decepcionado e sentindo que aquela era ainda mais uma punição do Senhor, Joaquim decidiu se retirar para as montanhas com seu rebanho, abandonando Ana. De acordo com o Evangelho de São Tiago, Joaquim teria se recolhido em retiro, jejuando e se abstendo da companhia da mulher.

Ana que já não tinha filhos, se viu também abandonada pelo marido e resolveu orar, pedindo ajuda ao Senhor. Em resposta às suas preces, apareceu um anjo do Senhor que a tranqüilizou, avisando que suas preces tinham sido ouvidas e que em breve seu marido retornaria e eles teriam o tão esperado filho. O mesmo anjo apareceu a Joaquim na montanha, para onde ele havia se retirado com seu rebanho, instruindo-o a voltar para casa por que Ana, sua mulher, havia concebido o filho que tanto desejava.

Joaquim obedeceu prontamente e, ao encontrar com Ana, os dois teriam se abraçado e trocado um beijo no rosto – momento que foi, erroneamente, retratado como o instante em que se teria dado a concepção de Maria. Segundo ambos evangelhos, portanto, a semente que gerou Maria, no ventre de Ana foi plantada pelo Senhor.

Apesar de Alguns teólogos e Doutores da Igreja, como Santo Anselmo, São Bernardo e São Boaventura, chegarem a negar a Imaculada Conceição de Maria, São Tomás de Aquino, o grande doutor da Igreja deixa claro o ponto.

No livro primeiro dos comentários dos livros das Sentenças (Sent.), escrito provavelmente em 1252 e quando São Tomás contava apenas 27 anos de idade, ainda no início de sua atividade acadêmica em Paris, ele escreveu o seguinte:

"Ao terceiro, respondo dizendo que se consegue a pureza pelo afastamento do contrário: por isso, pode haver alguma criatura que, entre as realidades criadas, nenhum seja mais pura do que ela, se não houver nela nenhum contágio do pecado; e tal foi a pureza da Virgem Santa, que foi imune do pecado original e do atual." (I Sent., d. 44, q. 1, a. 3)

Depois, na segunda parte do Compêndio de Teologia (CTh.), que pertence a um período anterior ao da elaboração da III da Suma Teológica, escrito quando Tomás já contava com cerca de 42 anos de idade, sendo provavelmente do ano de 1267, escreveu:

"Como se verificou anteriormente, a Beata Virgem Maria tornou-se Mãe de Deus concebendo do Espírito Santo. Para corresponder à dignidade de um Filho tão excelso, convinha que ela também fosse purificada de modo extremo. Por isso, deve-se crer que ela foi imune de toda nódoa de pecado atual, não somente de pecado mortal, bem como de venial, graça jamais concedida a nenhum outro santo abaixo de Cristo... Ela não foi imune apenas de pecado atual, como também, por privilégio especial, foi purificada do pecado original." (CTh. c. 224)

Finalmente, no final da sua vida, aos 48 anos, escreveu em seu sermão Expositio super Salutatione angelicae: “Ela é, pois, puríssima também quanto à culpa, pois nunca incorreu em nenhum pecado, nem original, nem mortal ou venial”.

No dia 8 de dezembro de 2007 o papa Bento XVI, após a recitação do Angelus, comentou que nesta festa solene se recorda que "o mistério da graça de Deus envolveu desde o primeiro instante de sua existência à criatura destinada a converter-se na Mãe do Redentor, preservando-a do contágio com o pecado original. Ao contemplá-la, reconhecemos a altura e a beleza do projeto de Deus para cada ser humano: chegar a ser santos e imaculados no amor (Efésios 1, 4), a imagem de nosso Criador."

Fonte: Pesquisa de Márcia Bonnet e documentos de São Tomás de Aquino

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Homilia do Papa Francisco de 01-12-2013 sobre o inicio do Advento, realizada no Angelus


Homilia do Papa Francisco de 01-12-2013 sobre o inicio do Advento, realizada no Angelus

“Na vida de cada um de nós há sempre uma necessidade de recomeçar, de levantar-se, de recuperar o sentido da meta de sua existência”: foi o disse o Papa Franciso que dedicou ao Advento a sua alocução que precedeu o Angelus.

“Assim para a grande família humana é necessário renovar sempre o horizonte comum para o qual estamos a caminho. O horizonte da esperança! O tempo do Advento, que hoje novamente iniciamos, nos dá o horizonte da esperança, uma esperança que não desilude, porque é fundada sobre a Palavra de Deus”.

Iniciamos hoje, Primeiro Domingo do Advento, disse o Papa, um novo ano litúrgico, isto é um novo caminho do Povo de Deus com Jesus Cristo, o nosso Pastor, que nos guia na história em direção ao cumprimento do reino de Deus.

Portanto, este dia tem um encanto especial, nos faz provar um sentimento profundo do sentido da história. Redescobrimos a beleza de estarmos todos a caminho; a Igreja, com a sua vocação e missão, toda a humanidade, os povos, as civilizações, as culturas, todos a caminho através das trilhas do tempo.

A humanidade, portanto, está a caminho, e o Papa se pergunta, mas para onde? Há uma meta comum ? Qual é essa meta? O Senhor nos responde através do profeta Isaías continuou Francisco:

“No final dos tempos, o monte da casa do Senhor estará firmemente plantado no mais alto dos montes, e será mais alto que as colinas e todas as nações correrão para ele. Virão muitos povos, dizendo: «Venham! Vamos subir à montanha do Senhor, vamos ao Templo do Deus de Jacó, para que ele nos mostre seus caminhos, e possamos caminhar em suas veredas»”. ( 2:2-3 ) .

Para o Papa Francisco, o que Isaías descreve é uma peregrinação universal em direção de uma meta comum, que no Antigo Testamento é Jerusalém, onde surge o templo do Senhor, pois a partir daí, de Jerusalém, veio a revelação da face de Deus e da Sua lei . A revelação encontrou em Jesus Cristo a sua realização, e o " templo do Senhor " tornou-se Ele mesmo, o Verbo que se fez carne: é Ele o guia e junto a meta da peregrinação do Povo de Deus; e para a sua luz também os outros povos podem caminhar em direção ao Reino da justiça e da paz.

Diz ainda o profeta : De suas espadas eles fabricarão enxadas, e de suas lanças farão foices. Nenhuma nação pegará em armas contra outra, e ninguém mais vai se treinar para a guerra. (2,4).

Permito-me, continuou o Papa de repetir essas palavas. Mas quando ocorrerá isso? “Que bonito dia será aquele, quando as armas serão desmontadas para serem transformadas em instrumentos de trabalho. E isso é possível! Vamos apostar na esperança, na esperança da paz, e isso é possível”!.

E o Papa chama a atenção para o modelo do comportamento espiritual, do modo de ser e de caminhar na vida, citando a Virgem Maria.

Uma simples jovem do interior, que carrega no coração toda a esperança de Deus! No seu ventre a esperança de Deus se fez carne, tornou-se homem, se fez história: Jesus Cristo. O seu Magnificat é o cântico do Povo de Deus a caminho, e de todos os homens e mulheres que esperam em Deus, no poder da sua misericórdia. Deixemo-nos guiar por ela neste tempo de espera e de vigilância ativa.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Homilia do Papa Francisco de 22-10-2013 sobre a sobre a contemplação, a proximidade e a abundância.


Homilia do Papa Francisco de 22-10-2013 sobre a  sobre a  contemplação, a proximidade e a abundância.
Deus não nos salvou por decreto ou por lei; nos salvou com a sua vida.  Este é um mistério que não pode ser compreendido só com a inteligência; mais do que isso, tentar explicá-lo só com o uso da inteligência significa arriscar-se à loucura.  Para entendê-lo necessita-se de outra coisa.
A passagem da Carta aos Romanos (12; 15; 17-19; 20-21) talvez seja uma das mais difíceis. Vê-se que ao próprio Paulo lhe custa proclamar, fazer-se entender.  De qualquer forma, ele nos ajuda a acercar-nos da verdade.  E, para facilitar nossa compreensão, três palavras são importantes: a contemplação, a proximidade e a abundancia.
Antes de mais nada, a contemplação.  Sem dúvida, trata-se de um mistério extraordinário, tanto que a Igreja, quando quer nos dizer algo sobre este mistério, usa somente uma palavra: admiravelmente.  “Ó Deus, Tu que admiravelmente criaste o mundo e, mais admiravelmente o recriaste...”.
Paulo quer fazer-nos entender precisamente isto: para compreender, é preciso se colocar de joelhos, orar e contemplar.  A contemplação é inteligência, coração, joelhos, e oração; e, colocar tudo isto junto significa entrar no mistério.  Portanto, o que São Paulo diz a propósito da salvação e da redenção realizada por Jesus somente se pode entender de joelhos, em contemplação; não unicamente com a inteligência, porque quando a inteligência quer explicar um mistério, sempre enlouquece.  Assim se sucedeu na história da Igreja.
A segunda palavra é a proximidade.  Um conceito que, no Evangelho, é repetido com frequência.  Um homem cometeu o pecado, outro homem nos salvou.  É um Deus próximo.  Este mistério nos mostra a Deus próximo de nós, de nossa história; desde o primeiro momento, quando escolheu o nosso pai Abraão, caminha com o seu povo, e enviou Seu Filho para realizar esta obra.
Uma obra que Jesus realiza como um artesão, como um operário.  A imagem que me vem à mente é a de um enfermeiro ou enfermeira que, em um hospital cura as feridas uma a uma, mas com as suas mãos.  Deus se envolve com nossas misérias, aproxima-se de nossas feridas e as cura com as suas mãos; e, para ter mãos, fez-se homem.  É um trabalho de Jesus, pessoal: um homem cometeu o pecado, um homem vem curá-lo.  Porque Deus não nos salva solo mediante um decreto, com uma lei; salva com ternura, salva com carinho, salva com a sua vida por nós.
A terceira palabra é abundância.  Na Carta de Paulo, repetem-se várias vezes: onde abundou o pecado, superabundou a graça.  Que o pecado abunda no mundo e dentro do coração de cada um é evidente.  Cada um de nós sabe de suas misérias, conhece-as bem.  E elas abundam.  Mas o desafio de Deus é vencer o pecado, curar as feridas como fez Jesus.  Mais ainda: dar o presente superabundante de seu amor e de sua graça.
Assim se entende também a preferência de Jesus pelos pecadores.  Acusavam-no de ir sempre com os publicanos, com os pecadores.  Comer com os publicanos era um escândalo, porque no coração desta gente abundava o pecado.  Mas Ele ia na direção deles com aquela superabundância de graça e de amor.  E a graça de Deus vence sempre porque é Ele mesmo que se doa, que se aproxima, que nos dá carinho e que nos cura.
É verdade que há quem não gosta de escutar que os pecadores são mais próximos ao coração de Jesus, que Ele vai buscar-los, chama a todos: venham, venham... E quando Lhe pedem uma explicação, Ele diz: mas os que têm boa saúde não necessitam de médico; vim para curar, para salvar em abundância.
Alguns santos dizem que um dos pecados mais feios é a desconfiança, desconfiar de Deus.  Mas como podemos desconfiar de um Deus tão próximo, tão bom, que prefere nosso coração pecador?  E assim é este mistério: não é fácil entendê-lo, não se compreende bem, não se pode entender só com a inteligência.  Talvez nos ajudem estas três palavras: contemplação, contemplar este mistério; proximidade, este mistério escondidos nos sinais do Deus próximo e que se aproxima de nós; e abundância, um Deus que sempre vence com a superabundância da sua graça, com a sua ternura, ou, com a riqueza de sua misericórdia.

Homilia do Papa Francisco de 13-10-2013 sobre a lógica do antes e do depois


Homilia do Papa Francisco de 13-10-2013 sobre a lógica do antes e do depois

“Temos que entrar na “lógica do antes e do depois” para que não nos convertamos em cristãos tíbios, ou os que se movem ao sabor dos ventos, ou mesmo, em hipócritas.” 

O Papa fez esta declaração, fazendo referencia à Carta aos Romanos (6, 19-23), em que São Paulo “busca fazer-nos entender este mistério tão grande de nossa redenção, de nosso perdão, do perdão de nossos pecados, em Cristo Jesus.”

O apóstolo adverte que não é fácil entender e sentir este mistério.  Para ajudar-nos a compreendê-lo, usa a lógica do antes e do depois: antes de Jesus e depois de Jesus. 

Na Carta aos Filipenses, (Filipenses 3,8), São Paulo também indica: “perdi tudo e tudo considero lixo, para ganhar a Cristo y viver por Ele”.  “São Paulo sentia muito fortemente que a fé nos faz justos, nos justifica diante do Pai.  Paulo abandonou ao homem de antes (velho) e se converteu no homem do depois (novo), com o objetivo de ganhar a Cristo.”

Por isto, Paulo indica um camino para viver segundo esta lógica do antes e do depois: é o mesmo que antes oferecíamos nossos membros à impureza e à maldade, para que fizessem o mal, agora oferecemos nossos membros à justiça, para a nossa santificação.

O que fez Cristo em nós é uma ‘re-criação’: o sangue de Cristo nos re-criou, em uma segunda re-criação.  E, se antes toda a nossa vida, nosso corpo, nossa alma, nossos hábitos, estavam no caminho do pecado e da iniquidade, depois desta re-criação, devemos fazer um esforço para caminhar pelo caminho da justiça e da santificação.  Paulo utiliza esta palavra: santidade.  Todos fomos batizados.  Naquele momento, éramos crianças, nossos país, em nosso nome, pronunciaram o ato de fé: creio em Jesus Cristo que nos perdoou os pecados.

Esta fé, devemos reasumí-la y levá-la em frente, através de nosso modo de viver.  E viver como cristão é levar em frente esta fé em Cristo, esta recriação.  Devemos levar em frente as obras que nascem desta fé.  O importante é a fé, mas as obras são o fruto desta fé: levemos em frente estas obras para a santificação.   Isto significa: a primeira santificação que realizou Cristo, a primeria santificação que recebemos no batismo, deve crescer, deve seguir em frente.

Na realidade, somos fracos e muitas vezes cometemos pecado.  Isto significa que não estamos no caminho da santificação?  Sim e não. Se você se acostuma a uma vida onde você crê em Jesus Cristo, mas vive como quer, então você não se santifica, não funciona, é um contra-senso. Mas se você diz: “eu sou pecador, sou fraco” e vai até o Senhor e Lhe diz:”Senhor, você tem a força, dá-me a fé; você pode curarme”, através do sacramento da reconciliação, então também nossas imperfeições se fazem introduzir neste caminho de santificação.

Portanto, se está sempre antes e depois: antes, o ato de fé.  Antes da aceitação de Jesus Cristo, que nos recriou com seu sangue, estávamos no caminho da injustiça; depois, estamos no caminho da santificação; no entanto, devemos tomá-la a sério.  E isto significa realizar obras de justiça.  Antes de mais nada, adorar a Deus; e depois, fazer o que Jesus nos aconselha: ajudar aos outros, dar de comer aos famintos, dar água aos sedentos, visitar os enfermos, visitar os presos.  Estas obras que Jesus fez em sua vida, obras de justiça, obras de recriação.  Quando damos de comer a um faminto, recriamos nele a esperança.

Mas se aceitamos a fé e depois não a vivemos, somos cristãos só de memória: sim, sou batizado, tenho a fé do batismo, mas vivo como posso.

Sem esta consciência do antes e do depois, nosso cristianismo não sirve ninguém.  Mais ainda, torna-se hipocrisia: eu me digo cristão, mas vivo como pagão.  Algumas vezes dizemos: “cristãos de meia tijela”, que não consideram seriamente o fato de ser “santificados pelo sangue de Cristo”.  E se não tomamos a sério esta santificação, passa-se a ser cristãos tíbios: sim, sim, não, não, não...  Temos que ter a convicção de Paulo: perdi tudo e tudo considero lixo, com o objetivo de ganhar a Cristo e viver Nele.

Esta era a “paixão de Paulo”.  E esta deve ser a paixão de um cristão: deixar tudo o que nos afasta de Cristo, o Senhor; deixar tudo o que nos afasta do ato de fé Nele, do ato de fé na recriação, por meio do seu sangue, e fazer tudo novo.  Tudo é novidade em Cristo, tudo é novo!

Este é um objetivo possível?  Sim!  Paulo o fez.  Muitos cristãos o fizeram e o fazem.  Não somente os santos, os que conhecemos; também os santos anônimos, os que vivem o seu cristianismo a sério.  Talvez a pergunta que hoje podemos fazer é: “quero viver meu cristianismo a sério?  creio que fui recriado pelo sangue de Cristo e quero levar em frente esta recriação, até o dia em que se veja a Cidade Nova, a criação nova?  Ou estou um pouco na metade do caminho?”

Peçamos a São Paulo que nos fala hoje com esta lógica do antes e do depois, para que nos dê a graça de viver a sério como cristãos, de crer verdadeiramente que fomos santificados pelo sangue de Jesus Cristo.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Homilia do Papa Francisco de 05-11-2013 sobre a inclusão de todos na Festa do Senhor


Homilia do Papa Francisco de 05-11-2013 sobre a inclusão de todos na Festa do Senhor

 

A essência do cristianismo é um convite para a festa. Foi o que afirmou o Papa Francisco na Missa desta manhã, na Casa Santa Marta. O Papa reiterou que a Igreja “não é somente para as pessoas boas”, o convite a fazer parte dela é para todos. E acrescentou, que na festa do Senhor, “participa-se plenamente” e com todos, não se pode fazer seleção. “Que os cristãos – advertiu – não se contentem em estar na lista de convidados”, pois seria “como estar fora da festa”.

 

“As leituras do dia – disse o Papa no início da homilia – nos mostram a carta de identidade do cristão”, sublinhando a seguir que “antes de tudo, a essência cristã é um convite: somente nos tornamos cristãos se somos convidados”. Trata-se, portanto, de “um convite gratuito” para participar, “que vem de Deus”. Para entrar nesta festa, “não se pode pagar: ou és convidado ou não podes entrar”. Se “na nossa consciência não temos esta certeza de sermos convidados”, então “não entendemos o que é um cristão”:

 

“Um cristão é alguém que é convidado. Convidado para que? Para um negócio? Convidado para fazer um passeio? O Senhor quer nos dizer algo a mais: ‘Tu és convidado para a festa!’. O cristão é aquele que é convidado à festa, à alegria, à alegria de ser salvo, à alegria de ser redimido, à alegria de participar da vida com Jesus. Isto é uma alegria! Tu és convidado para a festa! Se entende, uma festa é um encontro de pessoas que falam, riem, festejam, são felizes. Mas é um encontro de pessoas. Entre as pessoas normais, mentalmente normais, nunca vi alguém que faça festa sozinho, não é mesmo? Isto seria um pouco aborrecido! Abrir a garrafa de vinho... Isto não é uma festa, é uma outra coisa. Festeja-se com os outros, festeja-se em família, festeja-se com os amigos, festeja-se com as pessoas que são convidadas, como fui convidado. Para ser cristão é necessário uma pertença e se pertence a este Corpo, a esta gente que foi convidada para a festa: esta é a pertença cristã”.

 

Referindo-se à Carta aos Romanos, o Papa afirmou que esta festa é “uma festa de unidade”. E evidenciou que todos são convidados, “bons e maus”. E os primeiros a serem chamados são os marginalizados:

 

“A Igreja não é a Igreja somente para as pessoas boas. Quem pertence à Igreja, a esta festa? Os pecadores, todos nós pecadores somos convidados. E aqui o que se faz? Se faz uma comunidade que tem dons diversos: um tem o dom da profecia, o outro o ministério, um é professor... Todos têm uma qualidade, uma virtude. Mas a festa se faz levando isto que tenho em comum com todos...à festa se participa, se participa plenamente. Não se pode entender a essência cristã sem esta participação. É uma participação de todos nós. ‘Eu vou à festa mas vou ficar apenas na primeira sala, porque eu tenho que estar somente com três ou quatro que eu conheço e os outros ...". Isso não se pode fazer na Igreja! Ou você entra com todos ou você fica de fora! Você não pode fazer uma seleção, a Igreja é para todos, começando por estes que eu falei, os mais marginalizados. É a Igreja de todos! "

 

 

 

É a “Igreja dos convidados” – acrescentou: “Ser convidado, ser participante de uma comunidade com todos”. Mas – observou o Papa – na parábola narrada por Jesus lemos que os convidados, um após outro, começam a encontrar desculpas para não ir à festa: “Não aceitam o convite! Dizem sim, mas fazem não”. Estes “são os cristãos que somente se contentam em estar na lista dos convidados: cristãos elencados”. Mas – advertiu Francisco – isto “não é o suficiente” porque se não se entra na festa não se é cristão. “Tu estarás na lista, mas isto não serve para a tua salvação! Esta é a Igreja: entrar na Igreja é uma graça; entrar na Igreja é um convite”. “E este direito não se pode comprar”, advertiu.

 

“Entrar na Igreja – reiterou - é fazer comunidade, comunidade da Igreja; entrar na Igreja é participar com tudo o que nós temos de virtudes, das qualidades que o Senhor nos deu, no serviço de uns pelos outros. E ainda: “Entrar na Igreja significa estar disponível àquilo que o Senhor Jesus nos pede”. “Entrar na Igreja é fazer parte deste Povo de Deus, que caminha para a Eternidade”. “Ninguém é protagonista na Igreja – observou - mas temos um protagonista que fez tudo. Deus é o protagonista!”. Todos nós O seguimos e quem não O segue, é alguém que se desculpa” e não vai à festa:

 

“O Senhor é muito generoso. O Senhor abre todas as portas e também entende aquele que Lhe diz: ‘Não, Senhor, não quero ir contigo!’. Entende e o espera, porque é misericordioso. Mas ao Senhor não agrada aquele homem que diz ‘sim’ e faz ‘não’; que finge agradecer-lhe por tantas coisas bonitas, mas em verdade segue seu próprio caminho; que tem boas maneiras, mas faz a própria vontade e não a do Senhor: estes que sempre se desculpam, que não conhecem a alegria, que não experimentam a alegria do pertencer. Peçamos ao Senhor esta graça: de entender bem quão belo é ser convidado para a festa, quão belo é estar com todos e partilhar com todos as próprias qualidades, quão belo é estar com Ele e que ruim é jogar entre o “sim” e o “não”, de dizer “sim” mas contentar-me somente em fazer parte da lista dos cristãos”.

 

Homilia do Papa Francisco de 11-11-2013 sobre a consistencia da vida do cristão


Homilia do Papa Francisco de 11-11-2013 sobre a consistencia da vida do cristão, realizada na Capela de Santa Marta em Roma

Aquele que não se arrepende e ‘simula ser cristão’, faz muito mal à Igreja.  devemos estar atentos para que não nos convertamos em ‘corruptos”.

O Papa reafirmou que todos nos devemos dizer ‘pecadores’, mas devemos estar atentos para que não nos convertamos em ‘corruptos’. Quem é um benfeitor da Igreja mas rouba o Estado é um ‘injusto’ e realiza uma ‘vida dupla’.

Jesus “não se cansa de perdoar e nos aconselha a que façamos o mesmo”.  O Papa se concentrou nesta homilía na exortação do Senhor a que perdoemos nosso irmão arrependido, assim como fala o Evangelho.  “Quando Jesus pede que se perdoe sete vezes ao dia, faz um retrato de si mesmo.  Jesus perdoa, mas diz: ‘Atenção a quem causa escândalos’.  Não fala de pecado, mas de escândalo, que é outra coisa.  ‘É melhor para ele que ponha uma pedra de moinho em seu pescoço e se jogue ao mar, antes que escandalize a um destes pequenos’”. 

O Papa pergunta: “qual é a diferença entre pecar e escandalizar?”

E responde: “a diferença é que quem peca e se arrepende, pede perdão, se sente frágil, se sente filho de Deus, se humilha e pede, precisamente, a salvação de Jesus.  Mas o que escandaliza, o que escandaliza?  Não se arrepende, continua pecando e finge ser cristão: a vida dupla.  E a vida dupla de um cristão faz um mal imenso. ‘Mas eu sou um benfeitor da Igreja!  Coloco a mão no bolso e dou à Igreja!’  Mas com a outra mão, rouba o Estado, os pobres... rouba.  É um injusto.  Esta é a vida dupla!  E isto merece, diz Jesus e não eu, que lhe ponham uma pedra de moinho no pescoço e que seja jogado ao mar: não fala de perdão aquí.

Esta pessoa engana.  E aonde está o engano?  Não está no Espírito de Deus.  Está na direrença entre o pecador e o corrupto.  Quem conduz uma vida dupla é um corrupto.  Muito diferente de quem peca e gostaria de não pecar, porque é fraco, busca o Senhor e Lhe pede perdão:  este, o Senhor ama e acompanha; e quer estar com ele.

E nós, sim, devemos nos dizer pecadores, todos o somos.  Mas não somos corruptos.  O corrupto está fixo em um estado de auto-suficiência, não sabe o que significa a humildade.  Jesus dizia a estes corruptos: ‘a beleza de ser sepulcros brancos, que parecem belos por fora, mas por dentro estão cheios de ossos mortos, de putrefação’.  E um cristão que se vangloria de ser cristão, mas que não tem uma vida de cristão, é um destes corruptos.  Todos conhecemos alguém que está nesta situação e o quanto de mal fazem à Igreja!  Cristãos corruptos, sacerdotes corruptos: quanto mal fazem à Igreja!  Porque não vivem no espírito do Evangelho, mas no espírito mundano.”

O Santo Padre recordou o que São Paulo diz claramente em sua Carta aos Romanos: ‘não se conformem a este mundo’.  E ainda precisa: “o texto original é mais forte, porque afirma que não se pode entrar nos esquemas deste mundo, nos parâmetros deste mundo: esquemas que são este espírito mundano, que leva à vida dupla.

E Jesus não chamava a estes de ‘pecadores’, mas de ‘hipócritas’.  Ele não se cansa de perdoar, mas somente com a condição de que o pecador não queira levar esta vida dupla e de que vá a Ele arrependido.  Peçamos hoje a graça ao Espírito Santo para que nos livre de todo o engano, peçamos a graça de nos reconhecer pecadores: somos pecadores: pecadores sim, corruptos não.”

quarta-feira, 20 de novembro de 2013


Você é um Ozanam, quando...

 

Você é um Ozanam, quando tenta entender a verdade, não importa o seu grau de instrução...

Você é um Ozanam, quando é bom filho, não importa o que os outros filhos façam ou pensem sobre seus pais...

Você é um Ozanam, quando, como católico, você ama a Igreja de verdade e vive para serví-la...

Você é um Ozanam, quando, como um poeta, você olha para os problemas com desapego, vendo-os do alto, como se fossem distantes...

Você é um Ozanam, quando faz de sua própria profissão, um constante serviço a Deus nos irmãos...

Você é um Ozanam, quando, mesmo contra tudo o que os outros pensam, você é um esposo ou esposa fiel que ama a sua outra metade...

Você é um Ozanam, quando você é o pai que dá a vida por seus filhos, sem exigir nada em troca...

Você é um Ozanam, quando exige do mundo que seja justo com os pobres...

Você é um Ozanam, quando ama de verdade a SSVP, servindo os pobres e os outros vicentinos...

 

Não é necessário ser famoso, para ser Ozanam...

Não é necessário ser letrado...

Não é necessário falar línguas...

Não é necessário ser professor e doutor...

É preciso ser o que Ozanam foi como pessoa humana, como pai, como filho, como amigo, como cristão...  Enfim, como servidor.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Alguns Títulos de Honra de Antonio Frederico Ozanam


Alguns títulos de honra de Antonio Frederico Ozanam

(fundador da Sociedade de São Vicente de Paulo)

·       Membro da Academia Tiberiana de Roma (1841)

·       Membro da Academia dos Árcades - Roma (1844)

·       Cavaleiro da Legião de Honra (1846)

·       Membro correspondente da Academia Real da Baviera (1847)

·       Membro da Academia Religiosa Católica de Roma (1847)

·       Membro da Academia de Lion (1848)

·       Membro da Academia de Florença (1853)

domingo, 10 de novembro de 2013

Alguns poemas de Antonio Frederico Ozanam


Alguns poemas de Ozanam


Poema de Antonio Frederico Ozanam a sua esposa, Amélia Ozanam
(escrito na ocasião de seu casamento)

“Deixo que a felicidade viva em mim

já não conto mais os momentos nem as horas

O curso do tempo não é mais para mim

Que importa o futuro?

A felicidade do presente é a eternidade

Compreendo o céu!

Ajuda-me a ser bom e grato, cada dia, ao descobrir novas virtudes naquela que possuo”



Poema de Antonio Frederico Ozanam a sua filha, Maria Ozanam
“Quando o Bom Deus te fez, pequeno anjo sobre a terra,

para enxugar o pranto dos olhos de tua mãe,

eu pedi para ti todos os dons preciosos

que o Espírito Santo pudesse dar aos anjos do céu.

Para ti eu pedi suas graças imortais, sua pureza,

sua fé, tudo, exceto suas asas,

com receio de que pudesses sentir algum dia,

o desejo de retornar à altura sem nós e de fugir. 

Pelo fato de não teres duas asas ligeiras,

elas não podem te levar ao céu

elas defenderiam tua fronte dos ardores do sol,

agitariam o ar em movimento suave,

te fariam respirar, fresco e perfumado.

Tua cabeça, agora, se inclina como simples flor,

mal suportando o peso do calor.

Quem me dera o vento brando provindo de suas pregas

entregar a meu anjo amado o ar puro do paraíso!”



Poema de Antonio Frederico Ozanam sobre os problemas da vida
“O melhor meio de julgar os assuntos da vida é utilizar a calma e o desapego, olhando os problemas do alto, como se fossem distantes”



Poema de Antonio Frederico Ozanam sobre a própria poesia
“Deus é o autor de toda a poesia.  Ele a espalhou em profusão pelo universo, e, não só quiz que o mundo fosse bom, mas que ele também fosse belo”

 

segunda-feira, 4 de novembro de 2013


TESTAMENTO DE ANTONIO FREDERICO OZANAM (fundador da Sociedade de São Vicente de Paulo)

“Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.  Assim seja.

No dia de hoje, vinte e três de abril de mil oitocentos e cinquenta e três, no momento em que completo meu quadragésimo aniversário, preso das inquietações de grave moléstia, sofredor do corpo mas são de espírito, escrevi em poucas palavras minhas últimas vontades, propondo exprimi-las mais amplamente quando tiver mais força.

Entrego minha alma a Cristo, meu Salvador.  Aterrado pelos meus pecados, mas confiante na misericórdia infinita, morro no seio da Igreja Católica, Apostólica, Romana.  Conheci as dúvidas do século presente.  Toda a minha vida, porém, levou-me à convicção de que não existe repouso para o espírito e o coração a não ser na fé da Igreja e na sujeição à sua autoridade.  Se algum valor empresto a meus longos estudos, é porque me outorgaram o direito de suplicar a todos aqueles que eu amo que se conservem fiéis a uma religião na qual encontrei a luz e a paz.

Minha prece suprema à minha família, à minha esposa, à minha filha, a meus irmãos e cunhados e a todos os que deles nascerem é que perseverem na fé, não obstante as humilhações, os escândalos e as deserções de que serão testemunhas.

À minha terna esposa, que constituiu a alegria e o encanto de minha vida, e cujos meigos cuidados, durante um ano amenizaram todos os meus males, dirijo um adeus, breve como todas as coisas da terra.

A ela, minha gratidão e minha bênção.  Somente no céu, onde a espero, poderei render-lhe todo o amor que merece.  À minha filha, lanço a bênção dos patriarcas, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.  É bem triste para mim não poder consagrar-me por mais tempo à obra de sua educação.  Confio-a, porém, sem amargor à sua virtuosa e tão querida mãe.

A meus irmãos, Afonso e Carlos, toda a minha gratidão pelo afeto que me consagraram.  A meu irmão Carlos, de modo especial, por todas as preocupações que lhe causou minha saúde.  À minha mãe, à senhora Soulacroix e a Carlos Soulacroix, até nosso encontro junto àqueles que unidos pranteamos.

Uno em um só pensamento, todos os meus parentes e amigos que aqui deixo de nomear.  Desejo, contudo, que meu tio Haraneder, meus primos Jaillard, Noirot e Ampère, a quem tanto devo, e Henri Pessonneaux, Lallier, Dufieux, meus mais velhos amigos, aqui encontrem uma lembrança.

Agradeço mais uma vez a todos que me prestaram serviços.  Peço perdão das vivacidades e dos meus maus exemplos.  Solicito as preces de todos os meus da Sociedade de São Vicente de Paulo, dos meus amigos de Lion.  Não vos deixeis amortecer por aqueles que vos disserem: “Ele está no céu”.  Orai sempre por aquele que tanto vos ama, mas que muito pecou.  Apoiado em vossas preces, meus caros e bons amigos, deixarei a terra com menos temor.

Espero firmemente que não nos separemos e que ficarei convosco até virdes a mim.

Que sobre vós todos permaneça a bênção do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Assim seja!

Pisa, 23 de Abril de 1853

segunda-feira, 21 de outubro de 2013


A virtude do ZELO segundo São Vicente de Paulo

(retirado do livro “Liderança Mística”, a ser publicado em novembro de 2013)


Para Vicente de Paulo, zelo é o "amor em fogo", o que significa a paixão de trabalhar incansavelmente para realizar a vontade de Deus, para "transformar corações", para servir os Pobres, para evangelizar, e para encorajar outros a fazer o mesmo.

Pe. Robert Maloney, ex-Superior Geral da Congregação da Missão, propõe algumas formas práticas para exercitar o zelo:


1. O zelo se expressa em nosso dia-a-dia.

Mais e mais o cristão percebe que, às vezes, é mais difícil viver pelo Cristo que morrer por Ele. Seu zelo se mostra na vontade de continuar a fazer a vontade de Deus, especialmente no desencorajamento do dia-a-dia: é preciso despertar todos os dias, agradecer a Deus pelo dom da vida e recomeçar a nossa missão. 


2. O zelo se expressa na vontade de buscar mais operários para a colheita.

O amor é infectuoso e o zelo é o fogo que o espalha. O amor em chama deve buscar se comunicar com os outros, fazê-los sentir o mesmo fogo, assumir o mesmo zelo pela missão de servir.
 

3. O zelo faz do cristão um empreendedor social efetivo, pela confiança na Providência Divina.

Se a nossa vontade é de servir a Deus, então tudo virá Dele – é o Seu trabalho, não o nosso.  Santa Teresa de Calcutá dizia que “nunca foi entre nós e os homens, mas entre nós e Deus”.  Se é uma obra divina, alcançará os objetivos, conseguiremos superar nossas próprias fraquezas, conseguiremos empreender e obter os resultados a que nos propomos.
 

4. O zelo faz do cristão um empreendedor social efetivo, pela a inovação pela experiência.

Para São Vicente, o “amor é inventivo ao infinito”.  A vivência com os pobres, através da virtude, nos faz ser criativos para servir, assim como Deus é conosco (sempre nos surpreende com um plano melhor do que o nosso). Para isso, devemos nos questionar sempre se não há uma forma mais inteligente de alcançar nossas metas, de empreender, de servir, de dar dignidade e liberdade ao Pobre. 


5. O zelo faz do cristão um empreendedor social efetivo, pela espera no tempo de Deus.

As prioridades divinas são baseadas na perfeição da sabedoria e a nossa percepção do tempo não necessariamente é a mais precisa e necessária. Deixemos que Deus decida sobre o melhor momento!