segunda-feira, 4 de novembro de 2013


TESTAMENTO DE ANTONIO FREDERICO OZANAM (fundador da Sociedade de São Vicente de Paulo)

“Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.  Assim seja.

No dia de hoje, vinte e três de abril de mil oitocentos e cinquenta e três, no momento em que completo meu quadragésimo aniversário, preso das inquietações de grave moléstia, sofredor do corpo mas são de espírito, escrevi em poucas palavras minhas últimas vontades, propondo exprimi-las mais amplamente quando tiver mais força.

Entrego minha alma a Cristo, meu Salvador.  Aterrado pelos meus pecados, mas confiante na misericórdia infinita, morro no seio da Igreja Católica, Apostólica, Romana.  Conheci as dúvidas do século presente.  Toda a minha vida, porém, levou-me à convicção de que não existe repouso para o espírito e o coração a não ser na fé da Igreja e na sujeição à sua autoridade.  Se algum valor empresto a meus longos estudos, é porque me outorgaram o direito de suplicar a todos aqueles que eu amo que se conservem fiéis a uma religião na qual encontrei a luz e a paz.

Minha prece suprema à minha família, à minha esposa, à minha filha, a meus irmãos e cunhados e a todos os que deles nascerem é que perseverem na fé, não obstante as humilhações, os escândalos e as deserções de que serão testemunhas.

À minha terna esposa, que constituiu a alegria e o encanto de minha vida, e cujos meigos cuidados, durante um ano amenizaram todos os meus males, dirijo um adeus, breve como todas as coisas da terra.

A ela, minha gratidão e minha bênção.  Somente no céu, onde a espero, poderei render-lhe todo o amor que merece.  À minha filha, lanço a bênção dos patriarcas, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.  É bem triste para mim não poder consagrar-me por mais tempo à obra de sua educação.  Confio-a, porém, sem amargor à sua virtuosa e tão querida mãe.

A meus irmãos, Afonso e Carlos, toda a minha gratidão pelo afeto que me consagraram.  A meu irmão Carlos, de modo especial, por todas as preocupações que lhe causou minha saúde.  À minha mãe, à senhora Soulacroix e a Carlos Soulacroix, até nosso encontro junto àqueles que unidos pranteamos.

Uno em um só pensamento, todos os meus parentes e amigos que aqui deixo de nomear.  Desejo, contudo, que meu tio Haraneder, meus primos Jaillard, Noirot e Ampère, a quem tanto devo, e Henri Pessonneaux, Lallier, Dufieux, meus mais velhos amigos, aqui encontrem uma lembrança.

Agradeço mais uma vez a todos que me prestaram serviços.  Peço perdão das vivacidades e dos meus maus exemplos.  Solicito as preces de todos os meus da Sociedade de São Vicente de Paulo, dos meus amigos de Lion.  Não vos deixeis amortecer por aqueles que vos disserem: “Ele está no céu”.  Orai sempre por aquele que tanto vos ama, mas que muito pecou.  Apoiado em vossas preces, meus caros e bons amigos, deixarei a terra com menos temor.

Espero firmemente que não nos separemos e que ficarei convosco até virdes a mim.

Que sobre vós todos permaneça a bênção do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Assim seja!

Pisa, 23 de Abril de 1853

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