quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Homilia do Papa Francisco de 22-10-2013 sobre a sobre a contemplação, a proximidade e a abundância.


Homilia do Papa Francisco de 22-10-2013 sobre a  sobre a  contemplação, a proximidade e a abundância.
Deus não nos salvou por decreto ou por lei; nos salvou com a sua vida.  Este é um mistério que não pode ser compreendido só com a inteligência; mais do que isso, tentar explicá-lo só com o uso da inteligência significa arriscar-se à loucura.  Para entendê-lo necessita-se de outra coisa.
A passagem da Carta aos Romanos (12; 15; 17-19; 20-21) talvez seja uma das mais difíceis. Vê-se que ao próprio Paulo lhe custa proclamar, fazer-se entender.  De qualquer forma, ele nos ajuda a acercar-nos da verdade.  E, para facilitar nossa compreensão, três palavras são importantes: a contemplação, a proximidade e a abundancia.
Antes de mais nada, a contemplação.  Sem dúvida, trata-se de um mistério extraordinário, tanto que a Igreja, quando quer nos dizer algo sobre este mistério, usa somente uma palavra: admiravelmente.  “Ó Deus, Tu que admiravelmente criaste o mundo e, mais admiravelmente o recriaste...”.
Paulo quer fazer-nos entender precisamente isto: para compreender, é preciso se colocar de joelhos, orar e contemplar.  A contemplação é inteligência, coração, joelhos, e oração; e, colocar tudo isto junto significa entrar no mistério.  Portanto, o que São Paulo diz a propósito da salvação e da redenção realizada por Jesus somente se pode entender de joelhos, em contemplação; não unicamente com a inteligência, porque quando a inteligência quer explicar um mistério, sempre enlouquece.  Assim se sucedeu na história da Igreja.
A segunda palavra é a proximidade.  Um conceito que, no Evangelho, é repetido com frequência.  Um homem cometeu o pecado, outro homem nos salvou.  É um Deus próximo.  Este mistério nos mostra a Deus próximo de nós, de nossa história; desde o primeiro momento, quando escolheu o nosso pai Abraão, caminha com o seu povo, e enviou Seu Filho para realizar esta obra.
Uma obra que Jesus realiza como um artesão, como um operário.  A imagem que me vem à mente é a de um enfermeiro ou enfermeira que, em um hospital cura as feridas uma a uma, mas com as suas mãos.  Deus se envolve com nossas misérias, aproxima-se de nossas feridas e as cura com as suas mãos; e, para ter mãos, fez-se homem.  É um trabalho de Jesus, pessoal: um homem cometeu o pecado, um homem vem curá-lo.  Porque Deus não nos salva solo mediante um decreto, com uma lei; salva com ternura, salva com carinho, salva com a sua vida por nós.
A terceira palabra é abundância.  Na Carta de Paulo, repetem-se várias vezes: onde abundou o pecado, superabundou a graça.  Que o pecado abunda no mundo e dentro do coração de cada um é evidente.  Cada um de nós sabe de suas misérias, conhece-as bem.  E elas abundam.  Mas o desafio de Deus é vencer o pecado, curar as feridas como fez Jesus.  Mais ainda: dar o presente superabundante de seu amor e de sua graça.
Assim se entende também a preferência de Jesus pelos pecadores.  Acusavam-no de ir sempre com os publicanos, com os pecadores.  Comer com os publicanos era um escândalo, porque no coração desta gente abundava o pecado.  Mas Ele ia na direção deles com aquela superabundância de graça e de amor.  E a graça de Deus vence sempre porque é Ele mesmo que se doa, que se aproxima, que nos dá carinho e que nos cura.
É verdade que há quem não gosta de escutar que os pecadores são mais próximos ao coração de Jesus, que Ele vai buscar-los, chama a todos: venham, venham... E quando Lhe pedem uma explicação, Ele diz: mas os que têm boa saúde não necessitam de médico; vim para curar, para salvar em abundância.
Alguns santos dizem que um dos pecados mais feios é a desconfiança, desconfiar de Deus.  Mas como podemos desconfiar de um Deus tão próximo, tão bom, que prefere nosso coração pecador?  E assim é este mistério: não é fácil entendê-lo, não se compreende bem, não se pode entender só com a inteligência.  Talvez nos ajudem estas três palavras: contemplação, contemplar este mistério; proximidade, este mistério escondidos nos sinais do Deus próximo e que se aproxima de nós; e abundância, um Deus que sempre vence com a superabundância da sua graça, com a sua ternura, ou, com a riqueza de sua misericórdia.

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