O Evangelho de hoje (27 de julho) nos apresenta duas mensagens vicentinas. A primeira nos pede que, ao descobrir a nossa vocação de serviço ao Pobre, deixemos para trás tudo o que nos afasta de Deus. A segunda, põe em perspectiva a nossa busca da santificação no dia-a-dia, visando estar preparados para o dia em que Deus nos chamará para viver com Ele.
O Evangelho de São Mateus (Mt 13,44-52) nos diz:
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: “O Reino
dos Céus é como um tesouro escondido no campo. Um homem o encontra e o mantém
escondido. Cheio de alegria, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquele
campo.
O Reino dos Céus é também como um comprador que
procura pérolas preciosas. Quando encontra uma pérola de grande valor, ele vai,
vende todos os seus bens e compra aquela pérola.
O Reino dos Céus é ainda como uma rede lançada ao mar
e que apanha peixes de todo tipo. Quando está cheia, os pescadores puxam a rede
para a praia, sentam-se e recolhem os peixes bons em cestos e jogam fora os que
não prestam.
Assim acontecerá no fim dos tempos: os anjos virão
para separar os homens maus dos que são justos, e lançarão os maus na fornalha
de fogo. E aí haverá choro e ranger de dentes.
Compreendestes tudo isso?” Eles responderam: “Sim”.
Então Jesus acrescentou: “Assim, pois, todo o mestre
da Lei, que se torna discípulo do Reino dos Céus, é como um pai de família que
tira do seu tesouro coisas novas e velhas”.
Na
primeira mensagem, Jesus nos oferece duas comparações. Tanto na primeira comparação (a do tesouro),
quando na segunda (das pérolas), Jesus nos pede que deixemos de lado as “coisas
velhas” e nos preocupemos com as “coisas novas”.Para os vicentinos, isto significa a vivência profunda de duas das três virtudes teologais: a fé e a caridade. Uma vez descoberto o tesouro e as pérolas de nossa vocação de caridade, do serviço direto ao Pobre, já não podemos ser os mesmos: nossa vida se transforma completamente, através do que aprendemos do Pobre, nosso mestre e senhor, como dizia São Vicente de Paulo. Como sempre, nossa vocação de visita e serviço é um presente que Deus nos dá para que a vida passe a ter uma nova cor, uma nova perspectiva, um novo sentido. Tudo isso é feito através da fé, incondicional, de que o Pobre é, na verdade, o próprio Cristo que visitamos.
Na segunda mensagem, Jesus é um pouco mais duro. Ele nos diz o que acontecerá no fim dos tempos (dos “tempos” de cada um de nós, ou seja, de nossa vida). Indica-nos claramente que alguns serão postos ao lado de Deus e os outros serão lançados no fogo, onde haverá sofrimento. Não pode haver sofrimento pior do que a ausência definitiva de Deus, o vazio da justiça divina.
Jesus nos diz que os justos permanecerão em Deus. A palavra “justo” é uma tradução da palavra hebraica “tsadikk’” e do termo grego correspondente “dikaíos”: significa a retidão na excelência moral de Deus. Portanto, ser justo é mais do que seguir a lei: significa ser santo!
Novamente, há uma mensagem muito importante para nós vicentinos. Não é suficiente seguir as regras ou as obrigações. É preciso ir mais além e buscar a justiça de Deus em tudo o que fazemos (tanto na visita ao Pobre, quanto no dia-a-dia de de nossa família, de nosso trabalho, de nossa vida social). Aqui, reside a vivência da terceira virtude teologal, a da esperança: buscamos a nossa santificação para que, tanto em nossa vida, quanto depois dela, possamos continuar a privar da intimidade de Deus, da mesma forma que buscamos a intimidade com o Pobre que servimos.
Jesus nos indica que os pescadores lançaram a rede, trouxeram-na para a praia e fizeram as suas escolhas entre o bem e o mal. Nossa vida é assim mesmo. Lançamos a rede, nos defrontamos com toda a espécie de ações e pessoas, e temos que fazer escolhas entre o bem e o mal. Em cada lançamento de rede, em cada decisão, a cada momento. Os vicentinos buscam a luz e a força para a escolha do bem, tanto na visita ao Santíssimo, quando na visita ao Pobre: nas duas, visitamos o Templo do Espírito Santo.
As duas mensagens (a do tesouro e a do fim dos tempos) se juntam em uma consistente vida da vocação vicentina. Ao descobrir a vocação, queremos ser os “homens novos” e nos despir do “homem velho”; e isto o fazemos a cada momento de nossa vida, em que escolhemos ser santos (os que são íntimos de Deus) a ser o peixe ruim que deve ser lançado fora porque não serve para nada.
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