Planejar bem o ano
As leituras do ultimo
domingo (5 de janeiro) foram muito inspiradoras, em especial para quem se move
pela vocação vicentina. Três mensagens
pelo menos nos saltam aos olhos: a necessidade de planejar bem o ano; o
deixar-se guiar pela luz de Deus, e a necessidade de não ter medo (se seguimos
o plano de Deus para nós).
Primeiramente, a necessidade de definir um plano para
nós. Na carta aos Efésios (Ef 3,2-3a.5-6),
São Paulo vai logo dizendo que tem um plano para si mesmo: “se ao menos
soubésseis da graça que Deus me concedeu para realizar o seu plano a vosso
respeito”.
Neste período do ano,
estabelecemos muitas metas: um novo emprego, uma nova etapa nos estudos, a
perda de peso, o inicio de um esporte, a compra de algo que sempre
sonhamos. Esta prática é muito salutar:
devemos ter um plano para a nossa vida, no longo prazo e no curto prazo. Quando temos metas de longo prazo, as dificuldades
do curto prazo passam a ser vividas com muito menos sofrimento, porque o que
importa é alcançar as metas. Um plano de
metas dá a nós uma perspectiva da construção do futuro e nos facilita na
escolha das “batalhas a lutar e as batalhas a ignorar”. Não é necessário ter um plano de mudança do
mundo; podemos somente tentar mudar a nós mesmos, através da aproximação a
Deus, servindo aos outros e rezando mais: em essência, nisto consiste a
vivência das três virtudes teologais expressadas por São Paulo: fé, esperança e
caridade. Ao sentarmos para escrever
nosso plano para o ano, ofereçamo-lo a Deus, como súplica por nossa própria
santificação, uma oferenda alegre, empreendedora e repleta da esperança do
aumento de nossa intimidade com Ele. Uma
vez escrito o plano, basta por “mãos à obra” e fazer boas escolhas. No Evangelho de Mateus (Mt 2,1-12), os reis
magos primeiro louvaram ao Menino Jesus e depois deixaram os presentes (e eram
presentes de muito valor): “Quando entraram na casa, viram o menino com Maria,
sua mãe. Ajoelharam-se diante dele, e o adoraram. Depois abriram seus cofres e
lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra”.
Em segundo lugar, as leituras nos exortam a nos deixar
guiar pela luz de Deus. O
profeta Isaías (Is 60,1-6) já nos diz que, com o nascimento de Jesus, chegaria
a luz e ela seria a fonte de toda a esperança: “Levanta-te, acende as luzes,
Jerusalém, porque chegou a tua luz, apareceu sobre ti a glória do Senhor. Eis
que está a terra envolvida em trevas, e nuvens escuras cobrem os povos; mas
sobre ti apareceu o Senhor, e sua glória já se manifesta sobre ti. Os povos caminham à tua luz e os reis ao clarão
de tua aurora”. Se o nascimento de Jesus
não for causa de uma mudança em nossa vida, para melhor, então, não valeu a
pena Jesus ter nascido. Não podemos nos
colocar na contemplação da beleza estética do presépio, porque a gruta de Belém
é, na realidade, o nosso interior: Jesus nasce em cada um de nós. Mas Ele está no fundo; é preciso caminhar e
se deixar guiar pela estrela, para alcançar a gruta: “e a estrela, que tinham
visto no Oriente, ia adiante deles, até parar sobre o lugar onde estava o
menino”. Não foi fácil encontrá-Lo para
os Reis Magos: tiveram que caminhar muito, carregando os presentes e, certamente,
passando por dificuldades no caminho. Mas
quando O encontraram, suas vidas mudaram, porque a estrela que estava no céu se
transformou na Luz para a vida: “ao verem de novo a estrela, os magos sentiram
uma alegria muito grande”.
Finalmente, com o seu nascimento, Jesus nos motiva a
não ter medo de nada, se seguimos a Sua estrela, o seu caminho. A expressão “não tenhais medo” aparece
dezenas de vezes na Bíblia. Foi
mencionada inúmeras vezes pelos Papas João Paulo II e Bento XVI: quem não se
lembra das célebres homilias das missas de inicio de seus papados? Ao nos defrontarmos com situações de medo,
podemos ter duas opções: a reação pela natureza (como fez Herodes) ou a da graça
(como fizeram os Magos). Herodes
imediatamente percebeu a ameaça que um pobre menino, nascido em uma gruta,
representava para os poderosos: ele viu que o menino não era igual aos outros,
porque ele transformava as pessoas, dando-lhes uma esperança eterna, o que ele,
como líder político não conseguia fazer.
Sua reação foi forjar uma situação de traição covarde, ardilosa, feita
às escondidas. “Então Herodes chamou em
segredo os magos e procurou saber deles cuidadosamente quando a estrela tinha
aparecido. Depois os enviou a Belém,
dizendo: ´Ide e procurai obter informações exatas sobre o menino. E, quando o
encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-lo´.”
Quando finalmente nos
defrontamos com a Estrela, com a Luz divina que está dentro de nós, nossa
reação diante do medo deve ser de absoluta confiança, porque Deus sempre nos
indicará o caminho. No caso dos Magos,
Ele lhes falou por meio do sonho (“Avisados em sonho para não voltarem a
Herodes, retornaram para a sua terra, seguindo outro caminho.”). Em nossa vida cotidiana, Ele nos fala através
dos eventos mais simples. Para nós, que
temos a vocação vicentina, a Estrela-guia nos aparece no templo divino da casa
do assistido.
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