A virtude da MANSIDÃO segundo São Vicente de Paulo
(retirado
do livro “Liderança Mística”, a ser publicado em novembro de 2013)
Para
São Vicente de Paulo, a mansidão e gentileza (ou "douceur") é a
capacidade de ser firme, mas controlar e gerenciar a raiva. Implica também em
suportar ofensas com perdão e coragem.
Para
ele, a mansidão deve ser motivada pela genuína vontade de imitar e servir a
Cristo: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração” (Mt 23,1-12).
Vicente
de Paulo inspirou algumas definições de mansidão na vida prática, as quais são
apresentadas por Robert Maloney:
1.
Mansidão representa a habilidade de tratar a raiva de forma positiva.
Como
todas as emoções espontâneas, a raiva pode ser utilizada bem ou mal:
concretamente, todas as pessoas têm dificuldade de tratá-la de forma efetiva.
Conforme
indicava Vicente de Paulo, lidar bem com a raiva significa expressá-la de forma
apropriada; ele mesmo teve que controlar seu próprio temperamento colérico,
enfocando-o na reação às necessidades dos Pobres, com vigor e criatividade.
Também
expressou raiva de forma simples, quando percebeu a existência do mal em suas
comunidades, mas aprendeu a combinar a sua raiva com a sua gentileza, o sabor
amargo com o doce: buscava imitar a Cristo que era ao mesmo tempo gentil e firme.
De fato, Jesus sabia moderar seus momentos de frustração em relação aos
apóstolos e expressou claramente sua raiva em relação aos fariseus em diversas
ocasiões.
2.
Mansidão significa proximidade e calor humano.
Estas
são qualidades importantes, especialmente para os servidores dos Pobres. Neste
aspecto, Vicente de Paulo nos encoraja a ser confiantes de que podemos mudar,
citando sua própria experiência.
Os
que o conheceram em sua idade madura indicaram que ele era uma pessoa que
expressava enorme calor humano. Costumava dizer aos membros de suas comunidades
que as pessoas são “ganhas” muito mais pela mansidão do que pela argumentação.
3.
Mansidão significa a habilidade de tratar ofensas com perdão e coragem.
Vicente
de Paulo baseava seus ensinamentos sobre este assunto no respeito aos outros
como pessoas humanas: mesmo os que cometem injustiça merecem respeito.
Os
escritos de João Paulo II reiteram esta máxima nos dias de hoje: o chamado a
ter profunda reverência a todo o ser humano, mesmo que nos ofenda.
Naturalmente, ter respeito pela pessoa do ofensor não nos proíbe de canalizar
nossa raiva com coragem, contra o mal que o ofensor comete, mas deve nos guiar
a não cometer injustiça em nome da injustiça. João XXIII dizia que “devemos
odiar o pecado, mas amar o pecador”.
Vicente
de Paulo reconhece claramente - e recordou a Philip LeVacher sobre o ensinamento
de Santo Agostinho sobre este tema - que existem males que devem ser tolerados,
uma vez que não há possibilidade de os corrigir. Assim, devemos aprender a viver
com eles, tratando com respeito as pessoas que não conseguem se livrar deles: deixar
que Deus os trate e os converta em benefícios.
4.
Mansidão significa agir com coragem em nome da justiça e da paz.
João
Paulo II expressa a dualidade dos meios da construção da paz em sua encíclica
Centesimus Annus , dualidade que deve priorizar o desenvolvimento dos povos e
eliminar toda a tentativa de guerra.
Ele
diz: “Nunca mais a guerra. […] O outro nome da paz é o desenvolvimento. Como
existe a responsabilidade coletiva de evitar a guerra, do mesmo modo há a
responsabilidade coletiva de promover o desenvolvimento. Como a nível interno é
possível e obrigatório construir uma economia social que oriente o
funcionamento do mercado para o bem comum, assim é necessário que hajam
intervenções adequadas a nível internacional. Por isso deve-se fazer um grande
esforço de recíproca compreensão, de conhecimento e de sensibilização da
consciência. É esta a cultura almejada que faz crescer a confiança nas
potencialidades humanas do Pobre e, consequentemente, na sua capacidade de
melhorar a sua condição através do trabalho, ou de dar uma contribuição
positiva ao bem-estar econômico. Para fazê-lo, porém, o pobre — indivíduo ou
Nação — tem necessidade de que lhe sejam oferecidas condições realisticamente
acessíveis. Criar essas ocasiões é a tarefa de uma concertação mundial para o
desenvolvimento, que implica inclusive o sacrifício das situações de lucro e de
poder, usufruídas pelas economias mais desenvolvidas”.
Esta
é uma possível missão para todo o cristão que tem uma responsabilidade pública
ou privada na construção da paz.
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