Primeira
Exortação Apostólica do Papa Francisco
Evangelii
Gaudium
(Nona
Parte)
Capítulo I
A
TRANSFORMAÇÃO MISSIONÁRIA DA IGREJA
5.
Uma mãe de coração aberto
46. A
Igreja «em saída» é uma Igreja com as portas abertas. Sair em direção aos
outros para chegar às periferias humanas não significa correr pelo mundo sem
direção nem sentido. Muitas vezes é melhor diminuir o ritmo, pôr de parte a
ansiedade para olhar nos olhos e escutar, ou renunciar às urgências para
acompanhar quem ficou caído à beira do caminho. Às vezes, é como o pai do
filho pródigo, que continua com as portas abertas para, quando este voltar,
poder entrar sem dificuldade.
47.
A Igreja é chamada a ser sempre a casa aberta do Pai. Um dos sinais concretos
desta abertura é ter, por todo o lado, igrejas com as portas abertas. Assim, se
alguém quiser seguir uma moção do Espírito e se aproximar à procura de Deus,
não esbarrará com a frieza duma porta fechada. Mas há outras portas que
também não se devem fechar: todos podem participar de alguma forma na vida
eclesial, todos podem fazer parte da comunidade, e nem sequer as portas dos
sacramentos se deveriam fechar por uma razão qualquer. Isto vale sobretudo
quando se trata daquele sacramento que é a «porta»: o Batismo. A Eucaristia,
embora constitua a plenitude da vida sacramental, não é um prêmio para os
perfeitos, mas um remédio generoso e um alimento para os fracos. Estas
convicções têm também consequências pastorais, que somos chamados a considerar
com prudência e audácia. Muitas vezes agimos como controladores da graça e não
como facilitadores. Mas a Igreja não é uma alfândega; é a casa paterna, onde há
lugar para todos com a sua vida fadigosa.
48.
Se a Igreja inteira assume este dinamismo missionário, há de chegar a todos,
sem exceção. Mas, a quem deveria privilegiar? Quando se lê o Evangelho,
encontramos uma orientação muito clara: não tanto aos amigos e vizinhos ricos,
mas sobretudo aos pobres e aos doentes, àqueles que muitas vezes são
desprezados e esquecidos, «àqueles que não têm com que te retribuir» (Lc 14,
14). Não devem subsistir dúvidas nem explicações que debilitem esta mensagem
claríssima. Hoje e sempre, «os pobres são os destinatários privilegiados do
Evangelho», e a evangelização dirigida gratuitamente a eles é sinal do
Reino que Jesus veio trazer. Há que afirmar sem rodeios que existe um vínculo
indissolúvel entre a nossa fé e os pobres. Não os deixemos jamais sozinhos!
49.
Saiamos, saiamos para oferecer a todos a vida de Jesus Cristo! Repito aqui,
para toda a Igreja, aquilo que muitas vezes disse aos sacerdotes e aos leigos
de Buenos Aires: prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter
saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se
agarrar às próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada com ser o
centro, e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos. Se
alguma coisa nos deve santamente inquietar e preocupar a nossa consciência é
que haja tantos irmãos nossos que vivem sem a força, a luz e a consolação da
amizade com Jesus Cristo, sem uma comunidade de fé que os acolha, sem um
horizonte de sentido e de vida. Mais do que o temor de falhar, espero que
nos mova o medo de nos encerrarmos nas estruturas que nos dão uma falsa proteção,
nas normas que nos transformam em juízes implacáveis, nos hábitos em que nos
sentimos tranquilos, enquanto lá fora há uma multidão faminta e Jesus
repete-nos sem cessar: «Dai-lhes vós mesmos de comer» (Mc 6, 37).
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